A participação de Bacabal/MA no CONNEB em Belém do Pará

O Congresso Nacional de Negras e Negros do Brasil é a maior atividade política do movimento negro dos últimos 20 anos. Ele é fruto da união das maiores entidades nacionais do movimento negro brasileiro que perceberam após a Conferência Internacional de Durban em 2001 na África do Sul que tratou do combate de todas as formas de Racismo, Discriminação e Formas Correlatas de Discriminção, e da qual o Brasil e mais de 100 países tornaram-se signatários neste que é um marco internacional da luta anti-racista, assim como da criação da SEPPIR, tornava o momento satisfatório para a criação do Projeto Político do Povo Negro para o Brasil.
Das diversas entidades que compõe a coordenação do CONNEB, uma é o Coletivo de Entidades Negras/CEN, entidade nacional presente em 12 estados do Brasil e que tem em Bacabal no Maranhão algumas comunidades quilombolas do Médio Mearin filiadas.
Foram 4 membros destas comunidades que se fizeram representar no encontro e se posicionaram sobre importantes temas de debates nacional acerca da questão quilombola, da soberania nacional e a questão amazônica, juventude negra que foram discutidos nesta etapa do Congresso que contou inclusive com a presença Excelentíssimo Ministro de Promoção da Igualdade Racial, Sr. Edson Santos e mais de 400 delegados de 19 estados do Brasil.
O CONNEB é um espaço construído com muita dificuldade pelas entidades do movimento negro. As barreiras são fruto da necessidade de se fazer um Congresso transparente e sem as intervenções e contaminações partidárias e dos sindicatos, mas prezando o acúmulo racial que diversas entidades foram construindo ao longo de mais de trinta anos de movimento negro, onde fui denunciado e desnudado inclusive o mito da democracia racial no Brasil.
Com este Congresso o movimento negro não tem nenhuma intenção de criar ações separatistas e de caráter racista, muito pelo contrário a idéia é de que possamos de fato contemplar o conceito de nação que é definido pela inserção nas políticas nacionais de todos os grupos étnicos e suas contribuições culturais dentro de um território, o qual dispõe de soberania nacional. Entretanto notamos que no Brasil, apesar de 48% da população de auto-denominar negra, os dados estatísticos de desenvolvimento humano para este grupo étnico demonstram o imenso desnível em relação aos não-negros. O que pode significar isto? A resposta é simples: o racismo e as imensas desiqualdades raciais e sociais a que este grupo foi submetido ao longo da sua história no Brasil contando ainda, com os mais de 120 anos de uma abolição não acabada.
O que o movimento negro deseja não é revanchismo, muito pelo contrário, é que o Estado brasileiro reveja a sua postura e tome medidas concretas de reparação, pois só assim poderemos ser de fato um país de futuro e de igualdade de condições.

Cristina Miranda
Coordenadora do Coletivo de Entidades Negras no Maranhão - CEN/MA

Sobre o Conneb – Durante a Assembléia Nacional de Entidades Negras realizada em janeiro de 2007, no Rio de Janeiro (RJ), com a participação de 104 entidades do movimento negro, foi convocado o Congresso de Negras e Negros do Brasil. A primeira plenária, que deu início ao processo organizativo, foi realizada em abril daquele mesmo ano em Belo Horizonte (MG). Foi definido que o Conneb se realizaria como um processo de debates, através de seminários estaduais de militância e de comunidades, cujas deliberações seriam submetidas a quatro plenárias nacionais. A primeira destas assembléias foi realizada em São Paulo (SP) em outubro de 2007. A assembléia de Belém foi uma das duas etapas intermediárias, a qual se soma a assembléia de Porto Alegre (RS). E a última será realizada em Salvador (BA) ainda durante o ano de 2009. A coordenação nacional é formada por entidades negras de âmbito nacional, como MNU, Conen, Unegro, APN’s, FNMN, CEN, Círculo Palmarino e Conaq, às quais se agregam outras entidades locais e regionais.